A dor de ver quem amamos se perder de si
Assistir um familiar esquecer onde está, quem somos ou quem ele mesmo foi um dia, é como ter o coração espremido devagar. A pessoa que antes guiava a família, contava histórias, ria alto e fazia plano, agora pergunta o mesmo várias vezes ou parece se perder no meio da própria fala. Isso causa angústia, frustração e até culpa. Mas sentir tudo isso é natural. Amar alguém com Alzheimer é um exercício constante de paciência, mas também de aceitação do que não podemos controlar.
Cuidar de quem amamos sem se esquecer da gente
Na tentativa de cuidar de quem está esquecendo tudo, acabamos nos esquecendo de nós mesmos. Quando o amor é grande, a entrega também é, e isso pode nos adoecer sem perceber. É preciso fazer pausas, chorar quando for preciso, conversar com alguém, buscar ajuda. Você não é egoísta por querer cuidar de si. Pelo contrário: só estando bem é que você conseguirá continuar presente de forma verdadeira e saudável. Seu familiar precisa de você, mas você também precisa de você.
Transformar a angústia em cuidado com sentido
A angústia de ter um familiar com Alzheimer vem muito da impotência. Não há remédio que reverta o processo, e isso nos dói. Mas há algo que podemos fazer: estar presente com amor. Mesmo que ele não lembre quem você é naquele dia, ele sente o cuidado. Sente o tom da sua voz, o calor do seu toque, a segurança do seu olhar. A conexão não depende da memória, ela também se constrói pela emoção. E isso, sim, permanece mais do que parece.
Muita gente acha que precisa ser forte o tempo todo. Que não pode chorar na frente do familiar, que não pode se desesperar, que não pode se sentir incapaz. Mas você pode sim, você é humano. Cuidar de alguém que está se perdendo aos poucos é um processo de luto contínuo, e o luto exige espaço. Dê nome ao que você está sentindo, fale sobre ela, escreva, chore. Nunca deixe que isso seja maior que você.
Autocuidado e identidade além do papel de cuidador
Cuidar de um familiar com Alzheimer é um ato de amor, mas também pode fazer com que a pessoa se esqueça de si mesma. É fundamental desenvolver maturidade emocional para entender a situação da doença e reconhecer seus próprios sentimentos e limites. Enxergar-se além do papel de cuidador e manter o equilíbrio emocional ajuda a enfrentar os desafios com mais clareza, leveza e presença.
Não se abandonar: O cuidado consigo em meio à dor
É comum que o cuidador se sinta triste ou sobrecarregado, mas é essencial não se deixar de lado. Cuidar de si mesmo é necessário para não ser consumido pela dor. Pequenos gestos de cuidado pessoal como descansar, buscar apoio ou ter momentos de lazer fortalecem emocionalmente e permitem continuar cuidando do outro sem perder a própria essência.
Você não está só e não precisa enfrentar isso em silêncio !
Ter um familiar com Alzheimer é desafiador, cansativo e muitas vezes desesperador. E mesmo amando profundamente, isso não torna o processo mais fácil. Você não precisa dar conta de tudo sozinho, e por isso o Projeto Sua História foi pensado e criado. Falar sobre a sua dor, dividir a responsabilidade com outros familiares, ou até mesmo buscar apoio psicológico ou em grupos de suporte, é fundamental. Além disto, aqui você pode contar com ajuda, apoio e até mesmo orientações a cerca de como lidar com tudo que você possa estar sentindo.
Referências:
< Alzheimer’s Association. (n.d.). Caregiver Stress.
Disponível em: https://www.alz.org/help-support/caregiving
< Ministério da Saúde do Brasil. (2018). Cuidando de Pessoas com Doença de Alzheimer: orientações para familiares.
Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doenca_alzheimer_cuidando_pessoas_familiares.pdf
< Batista, P. S., Oliveira, M. L., Lima, K. C. (2020). Repercussões emocionais nos cuidadores familiares de idosos com Alzheimer. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 23(6).
DOI: https://doi.org/10.1590/1981-22562020023.200098
< Organização Mundial da Saúde (OMS). (2021). Dementia – Fact Sheet.
Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia
< Faria, A. L. G. de (org.). (2015). A Doença de Alzheimer e os Desafios do Cuidado. São Paulo: Hucitec.
ISBN: 9788579838315
< Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). (n.d.). Informações para cuidadores e familiares.
Disponível em: https://abraz.org.br